quarta-feira, 2 de junho de 2010

"Viver num buraco" ou "saindo do buraco" - Texto sobre projeto de Cristian Muller

Ao me deparar com o projeto “Hobbit Hole House”, do Arquiteto Cristian Muller, na semana passada, fui arrebatado por uma vontade avassaladora de escrever sobre esta obra pelo seu aspecto artístico. Um projeto assim honra a arquitetura como categoria artística pelo sua carga emotiva que desperta ludicidade no observador, arquiteto ou não.
Impossível não estabelecer relação direta com o início do artigo “Escultura no campo ampliado” da crítica de arte Rosalind Krass, datado 1979, que registra que nas últimas décadas anteriores ocorria a diluição das categorias artísticas em um “campo ampliado” de possibilidades plásticas, demarcando um novo momento que se solidificava na Arte Contemporânea. Obras tridimensionais poderiam estar sendo contemplada como pintura a partir de seus aspectos colorísticos, assim como composições de assemblagens, poderiam estar exteriorizando mais seus aspectos escultóricos ao pictóricos.
Krauss inicia seu artigo afirmando
O único sinal que indica a presença da obra é uma suave colina, uma inchação na terra em direção ao centro do terreno. Mais de perto pode-se ver a superfície grande e quadrada do buraco e a extremidade da escada que se usa para penetrar nele. A obra propriamente dita fica portanto abaixo do nível do solo: espécie de pátio, de túnel, fronteira entre interior e exterior, estrutura delicada de estacas e vigas. Perimeters/Pavillions/ Decoys de Mary Miss (1978) é certamente uma escultura, ou mais precisamente, um trabalho telúrico.”

Perimeters/Pavillions/ Decoys de Mary Miss (1978)

Descrição que quase ilustra a obra de Muller, arquiteto do trabalho protagonista deste texto, podendo-se até dizer que ele pode ter se embebedado na fonte criativa de Mary Miss, quando pensou nesta habitação subterrânea, de forte apelo estético e sensorial.
Não colocaremos em questão a categorização da proposta do arquiteto Muller como escultura no campo ampliado ou arquitetura no campo ampliado, pois é efetivamente um projeto arquitetônico, por se tratar de um elemento que foi projetado e construído para desenvolver sua função arquitetônica, não caberá essa discussão.
Contudo, o arquiteto idealiza a edificação não em um terreno plano como Mary Miss e sim em um terreno íngreme, tirando proveito da topografia acidentada, porém parece também vir trazer a tona questões pertinentes aos rumos da contemporaneidade que perpassa pelas artes e arquitetura. Questões intimamente ligadas a aspectos lúdicos e emotivos.
Com efeito, o arquiteto tira proveito de características rústicas que dialogam diretamente com o fato da casa ser subterrânea, como a presença de pedras na fachada e a utilização das mesmas na parte interior, além do uso de concreto aparente e madeira, contudo todo esse material usado de maneira a não carregar o ambiente, tornando-o com um visual arrojado.
O projeto de interiores se potencializa a partir dos elementos da arquitetura brutalista, permanecendo em concreto aparente toda a parte estrutural da edificação e das características que bebem na arquitetura medieval, como a presença de pedras brutas irregulares formando uma pequena escada na sala de estar, se contrapondo com o mobiliário excêntrico como os diversos modelos de luminárias empregados na sala de refeições, as cores vibrantes das roupas de camas e almofada do sofá, o design arrojado das poltronas e altos painéis de vidro provocando assimetria na fachada.
Obras de arte são distribuídas de forma sutil pela residência, de maneira que não chamem mais atenção do que a arquitetura que se estabelece como obra de arte em si. Podendo se considerar também, que o projeto de interiores emprega os objetos de design como substitutos das obras de arte. O que eu não considero como válido. Grandes extensões do cinza causam monotonia demais em uma cidade, quanto mais em uma residência. As escadas, por exemplo, poderiam receber elementos artísticos que pudessem provocar dinamismo a um simples espaço de passagem.
Um projeto assim certamente não pode ser concebido em qualquer tipo de solo, em morros formados por lixões aterrados, ou ainda em áreas em estado erosivo. Algo que foge completamente a realidade local, mas deixa a inquietação que ser arquiteto não deve ser somente pensar função e fluxo de uma edificação, a arquitetura deve transcender a área de Ciências Exatas e reverberar também como Ciências Humanas e Ciências da Arte. Sempre que possível, pensemos numa Bauhaus Imaginista.
Abaixo as fotos da residência supracitada, enviadas ao meu e-mail pela arquiteta Fabíola Brasil.















Cartão de visita

Murilo Rodrigues - Arquitetura, Urbanismo e Artes Visuais

Pra que serve Arquitetura? Ao meu ver a função principal da ARQUITETURA  é a proteção do indivíduo diante as intempéries climáticas. Claro, que não é só proteger! Tem que saber aliar forma e função, locar da melhor maneira os ambientes de uma casa ou empreendimento.
Ao rabiscar calungas(representações humanas em desenhos arquitetônicos) em cenas urbanas, um passatempo pessoal, fiz o desenho abaixo despretensiosamente, mas algum tempo depois percebi o potencial análogo entre o guarda-chuva e a arquitetura. Vejo-o como uma arquitetura portátil. Uma maneira de poder carregar a arquitetura para utilizá-la quando conveniente.
Um calunga com uma pasta e um guarda chuva. Um arquiteto indo ao trabalho. Se guardando do sol ou da chuva, tão presentes em nossa região. Traços livres feitos à mão como esboços de um arquiteto que transcende o curso de Ciências Exatas (Arquitetura e Urbanismo) na segunda formação em Ciências Humanas (Ed. Artística com Hab. em Artes Plásticas).